domingo, julho 01, 2007

EDUCAÇÃO: ROMANTISMO NÃO É A SOLUÇÃO

É muito interessante vermos as opiniões românticas de alguns educadores, formados e em formação, acerca dos caminhos da Educação brasileira. Declarações do tipo: “é preciso fazer o aluno gostar de estudar pelo próprio prazer de estudar” ou “precisamos acreditar que podemos fazer alguma coisa para mudar o quadro atual da educação” são facilmente ouvidas nas salas das Faculdades de Pedagogia em todo o território nacional, entretanto, há de se levar em consideração a realidade atual que cerca as vidas de nossos alunos.
A geração que hoje se encontra com idade a partir dos vinte e cinco anos, aproximadamente, é filha de pais que tiveram oportunidades de trabalho mesmo sem uma formação escolar concreta, pois o estágio de crescimento populacional do país e a demanda de mão-de-obra existente naquela época compunham um quadro que propiciava a formação do trabalhador dentro das próprias empresas devido à escassez de profissionais qualificados. Por sua vez, os alunos de hoje, sobretudo aqueles que pertencem às classes menos favorecidas de nossa sociedade, são filhos de uma geração que não encontrou as mesmas oportunidades no mercado de trabalho. Enquanto as gerações antigas de pais tinham uma visão que associava ascensão social por intermédio de uma formação escolar mais completa que proporcionaria mais oportunidades de emprego, as gerações de pais mais recentes (leia-se “camadas populares”, pois não há crise para os mais poderosos) apresentam uma frustração em termos da relação entre educação e sucesso na vida, eles foram criados acreditando que a formação escolar poderia levá-los a uma colocação no mercado de trabalho que os possibilitasse uma condição financeira capaz de constituir e criar com dignidade suas famílias, contudo, suas ilusões se perderam em função do crescimento da oferta de mão-de-obra e de uma maior necessidade de especialização do trabalhador, o que obrigou a maioria da população pobre a se sujeitar ao emprego informal e ao sub-emprego, com isto, vendo suas expectativas frustradas, os próprios pais não acreditam na educação como um fator de mudança social capaz de proporcionar aos seus filhos uma condição social diferente daquelas em que se encontram, muitos até conduzem seus filhos à escola muito mais como uma fuga da realidade doméstica do que com o intuito de adquirir formação para a vida. Todo esse sentimento (ou ressentimento) acumulado pelos pais faz com que eles não passem para seus filhos a crença em uma escola transformadora, capaz de mudar a trajetória de vida de cada um deles. Os filhos por sua vez, já não são tão ingênuos quanto os filhos de antigamente, e enxergam facilmente a cara do fracasso estampada em seus pais, que tiveram acesso à escola em busca de um suposto sucesso e que não apresentam condições de lhes assegurar o mínimo necessário para uma vida digna. Como bem apontou o professor alemão Adam Schaff, em seu livro A Sociedade Informática(1985 ), existe hoje um desemprego estrutural que tira dos menos preparados a oportunidade de emprego e de conseqüente ascensão social, condenando-os a uma vida miserável do ponto de vista material. Dessa forma, não adianta querer contar com o incentivo dos pais como cobram os citados educadores, isso sem falar nos alunos que nem pais têm, ou que têm a mãe ou o pai, ou até mesmo os dois, presos ou vivendo na marginalidade, até porque, estes casos já estão deixando de ser exceção para ser regra em algumas escolas de comunidades mais humildes. É preciso tornar a escola isenta dessas moléstias sociais, é preciso que ela seja realmente um ambiente confortável e enriquecedor para nossas crianças, enfim, é preciso motivar nossas crianças a fugirem do mundo cão que os envolve, e se refugiar em ambientes saudáveis e construtivos como deveriam ser as nossas escolas.
A partir dessas observações, questiono esse romantismo exacerbado que não resolve e nem ajuda em nada o desenvolvimento do processo educacional para as camadas mais pobres, pois ele transfere para o professor uma responsabilidade que não é sua. O professor na realidade, é mais uma vítima do sistema, com os salários defasados, as condições de trabalho precárias e a falta de incentivos e de perspectivas de mudanças. Os professores aparecem, segundo essa visão, como únicos culpados pela falta de interesse do aluno e pela falta de interesse em melhorar a qualidade da educação, quando de fato o que acontece é que a rua se tornou muito mais atrativa aos olhos de nossos alunos do que a escola desestruturada e enfadonha, a “lan house” é muito mais interessante que a sala de aula, alguns heróis de nossa juventude atuam no tráfico de drogas. Durante uma aula em uma turma de Educação Infantil, perguntei a cinco garotos que brincavam comigo em uma mesa qual a profissão que os mesmos queriam seguir quando crescessem, ingenuamente pensei que ouviria deles coisas como jogador de futebol ou médico, na verdade, ouvi de quatro deles que gostariam de ser polícia, até aí tudo normal, pois retratava a realidade deles de moradores de um bairro violento, entretanto, o quinto garoto falou que gostaria de ser ladrão, não cheguei a me chocar com a resposta, e procurei agir naturalmente perguntando aos outros se era correto ser ladrão, quando consegui demovê-lo da idéia, paralelamente a isso me remeti aos meus tempos de garoto, quando brincávamos de polícia e ladrão, e ninguém queria ser o ladrão. Por estas e outras razões, rejeito as idéias românticas de salvação da educação, entendo que as mudanças não devem ser pontuais, não devem buscar culpados, não devem ser compostas só de discursos, devem sim ser sistêmicas, estruturais, processuais, defendo a implantação da Educação Integral como alternativa para tornar as escolas mais interessantes para nossos alunos, dando-lhes oportunidade de viver dignamente uma boa parte do dia, com a realização de atividades lúdicas, esportivas, culturais e educativas, visando formar o cidadão e construir uma sociedade de homens e mulheres honestos e de paz que busquem a convivência em harmonia e recuperem a vontade de viver a partir da construção de valores sólidos que, certamente, nortearão as suas trajetórias.
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