sábado, agosto 09, 2008

PEDAGOGIA DO GOL

Motivados pelos astronômicos salários pagos a alguns jogadores de futebol, diversos pais vêm incentivando seus filhos a tentarem uma carreira futebolística, utilizando-se para os primeiros passos da garotada de uma dentre as milhares de escolinhas de futebol espalhadas pelo nosso país, muitas delas conduzidas por pessoas sem formação alguma que lhes dê suporte para trabalhar com crianças nem com educação, sim, falo de educação, pois é notório que uma escolinha de futebol, ou de qualquer outro esporte deve se constituir em um espaço de aprendizagem, de desenvolvimento também cognitivo, não só de habilidades físicas, até porque, as habilidades físicas não se desenvolvem sem o necessário desenvolvimento intelectual proporcional. Entretanto, a condução de tais escolinhas por pessoas qe se auto denominam "professores" pode funcionar para os pais como um tiro saindo pela culatra, ou seja, ao invés de preparar seus filhos para uma iniciação à prática futebolística, eles estarão levando-os a pessoas que lhes passarão várias mazelas associadas à disputa, por exemplo as tensões, as ansiedades que muitos destes professores carregam são passadas aos garotos (e garotas também, cada vez mais), eu mesmo tive o desprazer de ver um ex-atleta profissional, no comando de uma equipe de garotos na faixa etária compreendida entre 10 e 12 anos, jogar ao chão uma prancheta, em sinal de puro descontrole, após seu time perder uma disputa por pênaltis, detalhe, o último pênalti foi perdido pelo filho do próprio treinador, de aproximadamente 10 anos. Agora vejamos, se a instituição escolinha é feita para que os alunos aprendam, e perder faz parte do jogo, não deveria o citado "professor" procurar passar confiança ao garoto, ainda mais tratando-se de seu filho, confortando-o pelo erro e incentivando-o a buscar uma lição daquele momento e passar a treinar mais para acertar na próxima oportunidade? não deveria o professor fazer o papel do adulto nesta situação, servindo como um ponto de apoio moral para a criançada? criança tem que ser criança, tem que aprender sim, mas tem que brincar, tem que se divertir, até mesmo os jogadores profissionais têm seus momentos de descontração, com recreativos e rachões. Essas ansiedades e angústias ficam muito evidentes quando vêmos durante simples peladas, crianças de até 08 anos colocando as mãos na cabeça após perder um gol, na discussão gerada entre as crianças quando algum deles comete um erro qualquer por mais simples que seja. Imaginemos então a evolução dessas mazelas durante mais 10 ou 12 anos, quanta aflição estará contida nos corações destes jovens, até porque, muitos deles sofrem também pressões dos próprios pais, que visam proprocionar a seus filhos a oportunidade de ficar rico em pouco tempo de carreira, além da fama adjacente, como se não bastasse aos garotos, a título de incentivo, apenas o glamour apresentado pela nossa mídia em torno do futebol profissional. É lamentável acompanhar o treino da garotada quando aparece um desses pais que pressionam os filhos (para não usar um adjetivo mais forte), são gritos de várias formas, não em forma de estímulo, mas sim em forma de cobrança, de denegrir a figura do adversário, de reclamar com a arbitragem, muitos destes pais passam a nítida impressão de que nunca jogaram bola na vida, ou seja, eram péssimos nessa prática, mas exigem de seus filhos que eles sejam os melhores, que sejam os próximos Ronaldos ou Romários, incentivam até os garotos a machucarem os adversários, a usarem práticas pouco éticas, como simular faltas ou tentar ganhar no grito um lateral ou escanteio. Não quero aqui desconsiderar toda essa prática que realmente existe no futebol, mas condeno veementemente os excessos, a falta de ética, e o pior, a transmissão desta falta de ética, dessa ilicitude, aos mais jovens, até porque, senhores pais, tudo aquilo que ensinarem de errado a seus filhos será assimilado por eles, podem ter certeza, só que, eles utilizarão sem dúvida alguma essas "malandragens" na vida de uma forma geral, ou seja, essa desonestidade poderá ser facilmente percebida na escola, em casa, e futuramente no trabalho, e um dia os senhores poderão ver seus filhos em maus lençóis e farão a si mesmos a tradicional pergunta, "onde foi que eu errei?".
Retornando aos "professores", podemos constatar que muitos deles são ex-atletas profissionais, e tratam as crianças da mesma forma como eram tratados por seus treinadores, sem conseguir fazer a distinção entre adulto e criança, nem entre profissional e escolinha. Quero no entanto, fazer uma ressalva, isto não acontece de modo generalizado, já encontrei alguns ex-atletas que trabalham muito bem com a molecada, por conta disto, deixo esse alerta a pais e responsáveis, cuidado ao inserir uma criança em uma escolinha de futebol, certifique-se de que realmente trata-se de uma escolinha, ou seja, de um local de aprendizagem, pois do contrário os senhores correm o risco de estarem dando um tiro no próprio pé e que vai atingir também o seu filho, e em cheio.




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