sábado, abril 18, 2009

O ENEM A SERVIÇO DA DESIGUALDADE NACIONAL

Mais um absurdo à vista. O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) agora vai servir para alimentar a desigualdade existente entre as regiões brasileiras. A proposta do Ministério da Educação é que o aluno possa concorrer com a mesma nota para cinco universidades diferentes, ou seja, um aluno que hoje não consegue aprovação em uma universidade de uma região onde os níveis de estudo são mais avançados e o ensino médio mais bem estruturado poderá tomar legalmente a vaga de estudantes já prejudicados pela estrutura deficitária do ensino em sua região. O que vai acontecer com isso é que muitos alunos vão migrar para estados onde a concorrência por uma vaga universitária seja menor e tomarão assim o lugar dos moradores destas regiões. Quando acabar o curso, o forasteiro vai embora e o estado continuará sem os profissionais formados em sua própria universidade. Além de proclamar a perda da esperança de alunos, que sofreram durante toda a sua formação, de atingir uma redenção com uma formação em uma universidade federal, essa medida cria a possibilidade de originar uma espécie de xenofobia (aversão a estrangeiros), pois certamente haverá uma repulsa dos moradores locais em relação aos forasteiros que vêm ocupar as vagas dos filhos da terra.
Se hoje as pequenas cidades do interior da região norte já sofrem com as dificuldades para preencher vagas de funcionários em nível superior, como médicos e engenheiros, imagine agora que a tendência será de muitos alunos de outros locais formarem-se e retornarem a seus estados de origem. Diante disso, coclamamos os diretórios regionais de estudantes a protestarem, pois é o futuro de estados menos desenvolvidos que estará em jogo.
Essa é mais uma ação para beneficiar os poderosos, pois, não tenham dúvidas, serão os filhinhos de papai mais desinteressados com os estudos que preencherão tais vagas, e assim papai pagará toda a sua estadia durante a realização do curso, pois pai pobre não tem condições de manter filho em outro estado durante quatro ou cinco anos. E o Ministério da Educação que vinha trabalhando até bem, atua agora na contramão do desenvolvimento nacional, resta saber o interesse que há por trás de tudo isso.

domingo, abril 12, 2009

COMO SE CARACTERIZA O DESENVOLVIMENTO PSICO-AFETIVO

COMO SE CARACTERIZA O DESENVOLVIMENTO PSICO-AFETIVO SEGUNDO A PERSPECTIVA PSICANALÍTICA
INTRODUÇÃO

Ao longo da existência da humanidade, algumas moléstias que acometiam as pessoas não puderam ser explicadas no plano médico funcional do corpo humano, a partir daí os estudos da mente e suas relações com estas moléstias foram aprofundados, revelando então uma consistente ligação entre corpo e mente. A evolução destes estudos durante a história levaram alguns médicos psiquiatras a elaborar teorias que consideravam a ocorrência na vida do paciente de eventos traumáticos que, estando armazenados em sua mente, poderiam ser a causa de sintomas surgidos sem motivo aparente, particularmente chamados de histeria. Com destaque dentro desse cenário, o médico vienense Joseph Breuer realizou o tratamento da paciente denominada Ana O. que veio a ser o primeiro caso clínico tratado pelo modelo que daria origem à psicanálise. Este método, que ficou conhecido como Método Catártico, consistia em retomar recordações traumáticas passadas, para, a partir daí, eliminar os sintomas de histeria apresentados pelos pacientes. Também as experiências com sugestão pós-hipnótica de Bernheim, onde o paciente hipnotizado recebe a sugestão de agir de determinada forma após o transe e assim o faz, e a descoberta de Charcot, de que durante a hipnose as manifestações dos sintomas histéricos poderiam ser eliminadas temporariamente, contribuíram de forma substancial para o início da elaboração da Teoria da Psicanálise de Freud. Teoria esta cujas características e peculiaridades serão objeto de nosso estudo nas páginas seguintes e que procura explicar o funcionamento da mente humana a partir da descoberta da existência de níveis consciente e inconsciente, das suas relações com os desejos instintivos e com as informações provenientes das experiências vividas, e consolida-se na definição das fases do desenvolvimento, caracterizando estas fases, analisando a importância delas para a formação da personalidade do indivíduo e os sintomas relacionados com distúrbios dentro de cada uma das fases.
COMO SE CARACTERIZA O DESENVOLVIMENTO PSICO-AFETIVO
SEGUNDO A PERSPECTIVA PSICANALÍTICA

A teoria psicanalítica elaborada por Sigmund Freud, partiu de informações colhidas em experiências anteriores de outros médicos de sua época. Porém, Freud aprofundou-se de tal maneira no estudo da mente humana que foi reconhecido pela história como o “Pai da Psicanálise”, sendo até os dias de hoje apontado como referência no assunto nos mais diversos cantos do mundo. No entanto, para chegarmos a um entendimento da teoria psicanalítica, é necessário inicialmente entendermos as características do modelo topológico e a evolução dos estudos que levaram até a elaboração do modelo psicanalítico como é hoje conhecido.

O MODELO TOPOLÓGICO

A partir dos estudos anteriores e baseado no Determinismo Psíquico que o levou a afirmar que “nada ocorre ao acaso, e muito menos os processos mentais”, Freud definiu, dentro do modelo topológico, que a mente humana apresenta três processos distintos de armazenamento e utilização das informações acumuladas ao longo da experiência de vida de cada indivíduo, seriam eles: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. Ele acreditava que haveria sempre uma causa, consciente ou inconsciente, para cada evento mental ocorrido, mesmo aqueles que não apresentavam causa aparente, sendo a explicação destes últimos o objetivo principal de seus estudos.
Consciente
O consciente é dos três processos, aquele que nos parece mais simples e familiar, pois pode ser definido como o processo que nos apresenta tudo aquilo de que estamos cientes em um determinado momento, ou seja, é a porção da mente humana que armazena as informações que estão disponíveis em um instante qualquer. Como exemplo podemos citar a realidade de um aluno dentro de uma sala de aula, ele tem plena noção de que está em uma sala de aula, de quem ele é, de quem são os colegas mais próximos, etc. Portanto, tais informações estão em sua consciência naquele momento. O estudo do consciente não era, no entanto, o principal interesse de Freud, já que sua atenção estava mais voltada para as áreas da mente denominadas por ele: pré-consciente e inconsciente.
Pré-consciente
Diferentemente do processo consciente, o pré-consciente não acumula informações disponíveis na mente humana em um determinado instante, porém, embora seja uma parte do inconsciente, pode tornar-se consciente a qualquer momento que for necessário. Pode ser exemplificado pelas informações simples para nós como os nomes de parentes e amigos ou alguma matéria estudada na escola ou ainda uma infinidade de outras informações que mesmo não estando constantemente em nossos pensamentos, podem ser acessadas e recordadas sem muitas dificuldades sempre que for necessário.
Inconsciente
Instância mais complexa do funcionamento da mente humana segundo este modelo, pois é constituído geralmente de recordações que causaram algum trauma ao indivíduo, por esta razão tais informações são armazenadas em um nível mais profundo da mente, para que não venha a causar desconforto ao mesmo. Um caso de violência sexual contra uma criança, por exemplo, pode constituir-se em um fato traumático cuja lembrança lhe trará muita dor durante toda a vida, para evitar que tais lembranças permaneçam no nível consciente da mente, estas informações são armazenadas no Inconsciente.
Segundo Freud, para que as informações traumáticas sejam transferidas do consciente para o inconsciente e para que lá permaneçam, é necessário que atuem sobre elas duas forças mentais chamadas: Repressão e Resistência.
- Repressão
A idéia de que a recordação de um fato traumático para o indivíduo seria levada do nível consciente para o inconsciente da mente levou Freud a identificar uma força responsável por esta tarefa. Esta força foi denominada Repressão, e sua função é justamente transportar para o inconsciente as informações derivadas de um fato traumático que levariam o indivíduo a sofrer com uma dor de intensidade quase que insuportável caso permanecessem no nível consciente da mente. Este mecanismo de defesa no entanto é responsável apenas pela retirada da informação do nível consciente e consequente transporte para o nível inconsciente, sendo necessário então um outro mecanismo para garantir que a mesma não retorne ao nível da consciência. A este outro mecanismo Freud deu o nome de Resistência.


- Resistência
A partir da descoberta do inconsciente, Freud passa a tentar entender o porquê de serem mantidas em um nível mais profundo da mente, informações tão importantes para o indivíduo, e chega à conclusão de que somente uma força muito grande poderia fazer com que estas informações traumáticas não viessem ao nível consciente da mente humana. A essa força Freud deu o nome de Resistência, que teria a função de manter a recordação traumática em nível inconsciente para que não venha a causar incômodo ao indivíduo, e sendo sua intensidade maior à medida que maior seria a dor causada pela recordação destes fatos.

AS ESTRUTURAS DINÂMICAS DA PERSONALIDADE

Motivado por muitos questionamentos surgidos a partir da elaboração dos conceitos de consciente e inconsciente, Freud avança em seus estudos, e por volta de 1920 o modelo topológico é substituído pelo modelo dinâmico da estruturação da personalidade. Este modelo procura explicar as causas do comportamento humano a partir da interação entre três processos psicanalíticos denominados por Freud: Id, Ego e Superego.

O Id
O Id é o componente instintivo da mente humana, ele é constituído a partir de características inatas do indivíduo, acumula energias que serão utilizadas na busca da satisfação das necessidades do organismo(princípio do prazer), desde as mais básicas, como saciar a fome e a sede, até as mais complexas, como os desejos de natureza sexual, não respeitando em seus anseios os limites das regras de conduta estabelecidas pela sociedade.
Para satisfação dos seus desejos, o organismo necessita inicialmente gerar a imagem de um objeto que corresponda para ele à satisfação daquele desejo. A partir dessa imagem, o Id irá canalizar suas energias em busca de conseguir o referido objeto. Freud deu o nome de “processo primário” a esse sistema de gerar a imagem de acordo com a necessidade. “O melhor exemplo do processo primário em pessoas normais é o sonho noturno que, para Freud, representa sempre a satisfação ou a tentativa de satisfação de um desejo”(Hall, C. e Lindzey, G., 1984, p. 27).
Freud destaca dentre as energias do Id, as de natureza sexual como as mais importantes, sendo a libido a energia afetiva que mobiliza o indivíduo na busca do prazer.

Outras características do Id:
Podemos destacar ainda dentre as características do Id:
- O fato do mesmo ser “atemporal”, ou seja, não há uma ordem cronológica definida, só o presente existe para ele.
- “Todas as coisas são possíveis ao nível do Id”(Rappaport, C.R.; Fiori,W.R. e Davis C., 1981, p. 10). Essa afirmação indica a inexistência do princípio da não-contradição, ou seja, uma vez que não tem compromisso com a realidade, o Id pode gerar desejos ilógicos, como nos sonhos, quando podemos nos ver dentro d’água sem estarmos molhados, por exemplo.
- O processo de condensação permite que, dentro de uma só imagem gerada possam ser encontradas características pertencentes a vários desejos por satisfazer. Processo este que é mais freqüentemente encontrado no sonho.
- O deslocamento permite que as características de uma figura possam ser transferidas para outra em que não causem um desconforto à mente.


O Ego
É a instância do pensamento do homem que está ligada diretamente à realidade que o cerca, convive com as regras impostas pelo meio e é responsável por adequar as ações do indivíduo às normas sociais vigentes. Origina-se a partir do Id, utilizando-se de sua energia para funcionar, decorre da necessidade de levar ao nível da realidade os desejos instintivos, buscando os objetos que irão saciar os anseios inconscientes.
No Ego dá-se o “processo secundário”, que seria a ação responsável por buscar um meio de satisfazer os instintos do Id através do “princípio da realidade”, que seria justamente a ação dentro do plano real. Uma vez satisfeito o desejo emanado do Id, ocorre a redução da tensão mental originada com o início do processo. Ao Ego cabe também a função de organizar a personalidade do indivíduo, procurando adequar os anseios do Id às restrições impostas pelo Superego.
Outras características do Ego:
Como destaque dentre suas características podemos citar ainda:
- Para a execução do processo secundário utiliza-se do “domínio da motilidade”, ou seja, utiliza-se desse domínio para colocar no plano real os processos iniciados no Id; coordena as ações do corpo.
- Possui a capacidade de síntese, que abarca as funções da memória e do raciocínio lógico.
- Constitui-se na “sede da angústia”, uma vez que é a instância do pensamento que tem contato direto com o mundo real. Essa angústia pode ser classificada em:
1) Angústia real – consiste no medo de algum perigo real potencialmente ofensivo para o indivíduo. Pode ser exemplificado como o temor de uma agressão física ou de um assalto.
2) Angústia neurótica – pode ser definida como o receio existente no Ego de que os desejos do Id ultrapassem os limites do inconsciente e venham a se manifestar na prática sem que ele, o Ego, consiga controlá-los.
3) Angústia moral – É a angústia causada pela ação excessiva do Superego, que condena os desejos originados no Id fazendo com que se desenvolva no Ego um sentimento de culpa mesmo que a ação não tenha sido levada à prática no plano da realidade.



O Superego
É o responsável por agregar à mente os valores morais impostos pela sociedade da qual o indivíduo é parte constitutiva, ou seja, o Superego é a parte da mente humana que assimila os princípios que são entendidos como corretos pelo senso comum, é o grande censor dos desejos oriundos do Id, e irá orientar o Ego em relação àquilo que deve ou não ser feito diante das diversas situações do cotidiano.
O Superego divide-se em duas partes, a primeira chamada de Ego Ideal agrega os valores tidos como corretos, os ideais estabelecidos na sociedade da qual o indivíduo faz parte e os quais o mesmo deverá sempre buscar, a segunda é a Consciência Moral, ela é responsável pela incorporação das proibições existentes dentro do convívio social estabelecido.


Mecanismos de defesa
Para evitar que a recordação de alguns eventos traumáticos chegue até o nível consciente da mente, existem alguns mecanismos de defesa, sendo o mais importante dentre eles a Repressão, que já foi definido anteriormente, e do qual originam-se todos os demais. São eles: Divisão ou cisão, Negação ou negação da realidade, Projeção, Racionalização, Formação reativa, Identificação, Regressão, Isolamento, Deslocamento e Sublimação.


A DINÂMICA DA PERSONALIDADE

Analisando o funcionamento em conjunto dos três componentes psicanalíticos, teríamos o Id mobilizando suas pulsões gerando um desejo que precisa ser saciado, esse desejo deve ser levado ao Ego para que ele possa providenciar as ações que irão fazer com que o indivíduo obtenha o elemento que saciará tal desejo. Porém, para chegar ao Ego, o desejo terá antes de ser avaliado pelo Superego, caso esteja dentro dos limites morais incorporados pelo indivíduo à partir dos princípios sociais do grupo do qual faz parte, então será repassado ao Ego para as ações provedoras das necessidades do Id, no entanto, caso esse desejo esteja fora dos conceitos morais internalizados pelo Superego, haverá por parte desse último, um processo de rejeição que levará o desejo para uma região da mente responsável pelo armazenamento de tais desejos chamada inconsciente, com a finalidade de proteger o indivíduo de uma possível dor que seria causada pela pressão contínua do Id em busca da satisfação do seu desejo. Faz-se necessário citar que a existência desse processo de rejeição impede que o desejo chegue até o nível consciente da mente, contudo, constitui-se a partir daí, uma luta contínua entre a pulsão do Id para levar o desejo ao Ego, e a força repressora representada pelo Superego. Nessa luta contínua, Freud identificou a origem de fenômenos psíquicos como os sonhos, os atos falhos, a sublimação e as neuroses, que serviriam como forma de aliviar sensivelmente as pressões do Id sobre o Superego.




FASES DO DESENVOLVIMENTO

A partir da definição de libido como uma energia voltada para obtenção de prazer, e do entendimento de que o desenvolvimento da personalidade está diretamente ligado ao desenvolvimento da sexualidade, podemos considerar a distribuição das fases do desenvolvimento humano da seguinte forma:
- “Ao organizar-se progressivamente em torno de zonas erógenas definidas, a libido caracterizará três fases de desenvolvimento infantil: a fase oral, a fase anal e a fase fálica, um período intermediário sem novas organizações, o período de latência, e uma fase final da organização adulta, a fase genital”(Rappaport, C.R.; Fiori, W. R. e Davis C., 1981, p. 34 )

Dentro de cada uma das fases do desenvolvimento infantil podem ser observadas uma fantasia básica e uma modalidade de relação com o objeto. A sexualidade infantil vai do nascimento até os 6 anos de idade, que seria uma sexualidade pré-genital, não objetivando o relacionamento através dos genitais.
É importante destacar que as fases não são apenas períodos sucessivos independentes um do outro, mas na verdade são processos sobrepostos um ao outro à medida que a idade avança.

Fase oral
É caracterizada pela fixação da zona erógena na boca da criança, mais especificamente nos lábios e na língua, é a fase onde todos os objetos são levados à boca onde são avaliados e provados, é a maneira que a criança encontra de interagir com o mundo e identificar elementos que não fazem parte dela, pois neste período não há obviamente uma completa percepção do mundo como um todo, a criança então vê o mundo como o “eu” e o “não eu”. Há nesse período a primeira e mais importante ligação afetiva estabelecida, o da boca do bebê com o seio materno, assim inicia-se o processo de relacionamentos envolvendo amor e ódio da vida humana. Nessa fase ocorre a modalidade incorporativa, que faz com que a criança sinta a mãe dentro de si a partir do contato com o seio e consequente ingestão do leite materno.
Na verdade, a fase oral constitui a mais importante na vida humana, pois sendo a primeira das fases, será nela o primeiro contato com o mundo, e a partir do corte do cordão umbilical inicia-se um processo irreversível de descobertas e experiências em prol da existência em busca da perpetuação, objetivo final da vida.

Fase anal
A característica principal desta fase é a fixação da zona erógena no anus da criança, mais precisamente nos dejetos produzidos pelo bebê, o cocô e o xixi, que apresentam para ele uma nova relação com o “não eu”, uma relação na qual ele pode negar ou ceder um produto seu para o meio exterior. É nesse período que o bebê começa a andar e a falar, isto fará com que ele agora veja o mundo de pé, consistindo isso em uma grande conquista até então. A fala também consiste em um produto do bebê, o qual ele poderá ceder ou negar ao meio externo.
As modalidades de relação com o objeto nesta fase são a projeção e o controle. A projeção constitui-se quando os produtos são cedidos ao meio exterior com o domínio da criança. E o controle acontece quando ela descobre que pode reter seu produto e liberá-lo quando tiver vontade.


Fase fálica
Nesta fase, a criança fixa suas atenções nos órgãos genitais, mais precisamente no pênis, sendo caracterizado o menino como aquele que possui pênis, e a menina como aquela que não possui. É comum neste período, as crianças fazerem analogia dos sexos masculino e feminino com seres inanimados como cadeiras ou mesas, indagando-se qual seria o sexo de cada um deles, isso por que a zona erógena organizada em torno do genital, levará a criança a organizar em sua mente os modelos de relação homem/mulher.
Esta fase apresenta duas etapas distintas, a primeira chamada Narcísica, onde a criança fará o reconhecimento do seu sexo e das diferenças existentes entre os sexos, a segunda chamada Edípica, onde o complexo de Édipo se estabelece na vida da criança, ou seja, o menino ficará dividido entre o amor que sente pela mãe, já que ela será a primeira imagem feminina que ele identificará, e o sentimento de rancor dedicado ao pai que lhe toma o objeto do desejo que é a mãe. No entanto, ele disputa com o pai o afeto da mãe e identifica no pai a imagem de homem que ele deve seguir. São os sentimentos de amor e ódio que perdurarão por toda a sua existência porém com outros focos. Com a menina ocorre o inverso.
A repressão do Complexo de Édipo ocorre a partir do temor que o menino sofre da castração, pois ele reconhece no pai, um adversário muito mais forte, que poderá arrancar-lhe o pênis, e este medo faz com que ele desista do amor da mãe, fortalecendo assim a formação do seu Superego, através da identificação com os padrões morais obedecidos pelo pai.


Período de latência
Com o fim das fases do desenvolvimento infantil por volta dos 06 anos de idade, inicia-se o período de latência, onde ocorrerá a inibição da energia sexual e com isto não haverá uma zona erógena definida, ao passo que toda a energia é canalizada para outras atividades, através do processo de sublimação. Freud citou inclusive que nas diferentes culturas, este período coincide com o início das atividades escolares, e atribuiu isto ao fato da canalização das energias, que tornaria este período ideal para o desenvolvimento intelectual e para o aprendizado de novas atividades.
A latência no entanto não é absoluta, existirão neste período, algumas manifestações de caráter erótico, sobretudo do meio para o final do período onde ocorrem as atividades masturbatórias. Haverá neste período, a formação dos ideais éticos, estéticos, da moral e da vergonha.


Fase genital
Acontece quando o adulto atinge o pleno desenvolvimento psicossexual. Nessa fase, ocorre a quebra do ideal representado pelos pais durante a infância, ou seja, novos modelos de pessoas ideais surgirão na vida da pessoa. A partir daí serão formados os desejos sexuais propriamente ditos, que terão como objetivo a satisfação através do ato sexual. A interação com os diferentes grupos sociais desenvolverão um sentimento altruísta, em substituição ao narcisismo. A reprodução será a principal função biológica do estágio genital.




CONSIDERAÇÕES INDIVIDUAIS

Após o estudo de toda sistemática da teoria psicanalítica, podemos considerar que trata-se certamente do mais importante instrumento de análise do funcionamento da mente humana de que o homem dispõe. Um estudo deste nível de um sistema tão complexo não poderia ser feito senão com a obstinação de um apaixonado pelo assunto e a dedicação de uma vida inteira de trabalho. Sem dúvida para nós torna-se quase impossível resgatar hoje o vazio inicial que deve ter se apresentado a Freud, embora tenha ele partido de experiências anteriores de outros médicos, o fato de imaginar a existência de níveis consciente e inconsciente da mente em uma época em que as bases científicas não eram tão sólidas e sobretudo em um assunto tão pouco esclarecido, seria tão improvável quanto a própria repercussão que atingiu a obra durante estas décadas que se passaram desde a sua elaboração. A idealização dos constructos psicanalíticos, a identificação de suas funções dentro do mecanismo mental, os processos de interação entre os mesmos e a importância das experiências passadas dentro desse sistema, com certeza foram informações inseridas em um fascinante universo abstrato no qual Freud foi aos poucos montando um quebra-cabeça com pequenos dados obtidos a partir da análise de seus pacientes, culminando com a consolidação do seu trabalho na definição das fases do desenvolvimento.
Hoje se apresentam para nós tais informações de uma forma que induz quase que a certeza da sua veracidade, no entanto os estudos da mente humana ainda estão evoluindo, e com os avanços tecnológicos ocorridos na recente história da humanidade, podemos nos deparar a qualquer hora com uma nova revelação que poderá mudar os conceitos estabelecidos por Freud, no entanto, a história jamais poderá negar que tudo aquilo que se estabelecer após a teoria psicanalítica será inevitavelmente derivado da obra deste, que foi, sem dúvida alguma, o grande mestre na arte de analisar aquilo que o ser humano tem de mais enigmático, o funcionamento de sua mente.
Para tecermos considerações individuais a cerca da teoria psicanalítica, faz-se necessário a análise passo a passo da evolução dos conceitos da psicanálise e a sua inevitável comparação com as informações decorrentes da nossa experiência de vida e do nosso entendimento das características de comportamento apresentadas de uma forma geral durante o desenvolvimento afetivo das pessoas.
Iniciando a análise pelo modelo topológico, podemos considerar os conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente como sendo procedentes dentro do ponto de vista da associação com aquilo que podemos assimilar do funcionamento da mente humana de maneira empírica, pois para nós a idéia de um nível consciente da mente parece fato inconteste, embora cientificamente, ou biologicamente, não possamos ter uma certeza concreta disto, mas a própria maneira de agirmos, de nos expressarmos, nos leva a crer que temos absoluto controle sobre a maioria de nossos atos e de nossos pensamentos. A maioria, eu disse, pois algumas vezes parecemos tomados por forças maiores que nosso consciente, e terminamos por realizar atos para os quais não encontramos explicações lógicas dentro da nossa maneira corriqueira de pensar e de agir, tais atos nos levam a uma reflexão em busca das razões de sua execução, e continuando a nossa analogia com o modelo topológico, encontramos base a partir da idéia do inconsciente, que seria a instância mental responsável pelo armazenamento das informações que uma vez percebendo uma motivação procedente, irá desencadear um processo que levará o nosso corpo a agir de determinada forma sem que para isso tenhamos comandado tal ação conscientemente.
Encontramos uma exemplificação perfeita dos processos pré-consciente e inconsciente, na observação de um fato que certamente acontece com qualquer pessoa normal, é a associação de cheiros a fases passadas da vida ou a determinados lugares em que estivemos. Quantas vezes não nos pegamos inalando, com extrema vontade, algum odor que emana do ambiente em que estamos? Não raras vezes este odor nos remete a lembranças de fatos passados em nossa vida que não nos dávamos conta que estavam em nossa memória, e o que dizer da sensação de bem-estar que acompanha tal odor, muitas vezes sequer conseguimos associar o cheiro ao fato, mas a sensação de bem-estar é incontrolável. Isto ao meu ver só pode ser explicado a partir da existência de um nível não consciente do pensamento.
A análise das estruturas dinâmicas da personalidade, no entanto, requer de nós uma maior solidariedade às idéias de Freud, pois não parece tão clara assim a existência dos três processos identificados por ele (Id, Ego e Superego). Porém, também não é fácil negar a existência dos mesmos, ou ainda provar que eles não existem. Sendo assim, cabe a nós aceitarmos ou não, mesmo com restrições, as idéias apresentadas por Freud.
No caso do Id, a existência de componentes instintivos no comportamento humano parece mais nítida, pois eles podem ser associados a anseios básicos como a fome e a sede. No entanto, associar as energias emanadas do Id às de natureza sexual essencialmente, é focar demasiadamente um aspecto do relacionamento humano em detrimento de outros que são apresentados com menos ou nenhuma ênfase em seu trabalho.
O Ego é apresentado como o nível consciente da mente, é aquele que sistematiza o processo de obtenção do objeto que irá saciar o desejo proveniente do Id. Ora, uma vez que já concordamos com a existência de um nível consciente da mente humana a partir do modelo topológico, a idéia de Ego é bastante plausível, e reitera todas as afirmações e analogias feitas quando da análise do modelo topológico, tornando-se de certa forma o conteúdo do modelo dinâmico mais facilmente identificado no plano real da vida humana.
Analisar o Superego é, sobretudo, considerar a existência de uma instância ou processo mental exclusivamente dedicado à incorporação das regras de conduta da sociedade, que irá avaliar a natureza dos desejos emanados do Id e poderá permitir o acesso dos mesmos até o Ego, ou negar este acesso e enviá-los para um nível inconsciente onde os mesmos ficarão forçosamente, buscando ainda a sua chegada ao Ego. Entretanto, podemos questionar a existência exclusivamente inconsciente deste processo, pois muitos desejos que temos e buscamos reprimir, certamente chegam ao nível consciente de nossa mente como podemos avaliar no plano real da vida, sendo assim a idéia da existência do Superego é pertinente, mas a sua natureza inconsciente é ao meu ver questionável.
Por fim chegamos às considerações a cerca das fases do desenvolvimento, onde mais uma vez a obra Freudiana é voltada sobretudo para uma análise a partir das energias de natureza sexual. As formações das zonas erógenas nas três fases do desenvolvimento infantil, a repressão da energia sexual no período latente que sofrerá um processo de sublimação que proporcionará o uso produtivo às vistas da sociedade de tais energias, e a fase genital onde os mitos serão desfeitos e o indivíduo tornar-se-á adulto, dão um enfoque relacionado diretamente à pulsão sexual do indivíduo, o que, como já citei pode valorizar mais esta área e esquecer, de certa forma, de outros vínculos sentimentais que unem as pessoas. No entanto, esse é apenas um questionamento a ser feito que, de maneira alguma tira da obra a relação de associação com os fatos ocorridos na vida humana que podem ser observados e posteriormente encontrarem explicação na teoria da psicanálise, comprovando a condição desta teoria de principal instrumento de análise da mente humana existente até hoje.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:




Cunha, Marcus Vinicius da. Psicologia da educação, 3ª edição, Rio de janeiro: D P & A, 2003.

Fadiman, j. e Frager, R. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1979.


Hall, Calvin e Lindzey, Gardner. Teorias da Personalidade. São Paulo: E.P.U., 1984.

Rappaport, C. R. ; Fiori, W. R. e Davis C. Teorias do Desenvolvimento : Conceitos Fundamentais, São Paulo: E.P.U., 1981.
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