sábado, junho 13, 2009

Orientação educacional: perspectivas e impasses

Determinantes sociais na construção das carreiras escolares
A desproporcionalidade sócio-econômica que permeia a existência da sociedade moderna é refletida no conjunto micro social da escola de tal forma que a construção das carreiras escolares dos diferentes indivíduos é envolta em uma malha de fatores que tornam-se fundamentais para determinar trajetórias, sucessos e fracassos. Nesse conjunto de fatores, situações diversas configuram-se como determinantes sociais, elementos causadores e justificadores de uma ou outra escolha, que por sua vez determinarão não só o rumo da carreira escolar do indivíduo, mas também de toda a sua história de vida profissional e pessoal.
No início da civilização do homem, o modo de sobrevivência não possibilitava a criação de grupos diferenciados socialmente, conforme afirma Silvio Bock. Pois o trabalho manual era exercido por todos, porém com pequena diferenciação nas tarefas devido às características físicas específicas de homens, mulheres e crianças. Com o passar do tempo e a evolução de diversas sociedades, surgiu a divisão dos povos em classes sociais, e com ela a construção de valores diversos que tornariam uns indivíduos cada vez mais diferentes de outros de classes distintas segundo a visão geral. Esses valores seriam fundamentais para originar na sociedade atual a diferenciação das possibilidades de cada um perante o cenário escolar e profissional que o aguarda.
A partir do momento em que se passou a valorizar o conceito de capital humano (década de 60 do século XX), conforme nos diz Saviani, a educação passou a ser entendida como decisiva para o desenvolvimento econômico de uma nação e, segundo os críticos, funcional ao sistema capitalista, uma vez que prepara a mão-de-obra a ser utilizada nas indústrias e paralelamente colabora para a conservação das diferenças sociais existentes entre os detentores do modo de produção e os da força de trabalho. Analogamente, dentro do sistema escolar, essa manutenção das diferenças se traduz em desigualdade de oportunidades e possibilidades, o que irá determinar o rumo da carreira escolar e as chances de sucesso que o aluno terá ao longo de sua trajetória educacional.
A popularização (“democratização”) do acesso à escola surgiu apenas como uma necessidade funcional do capitalismo e uma ferramenta a serviço do chamado Estado Mínimo, em que são oferecidas aos menos favorecidos compensações sociais para, supostamente, favorecer-lhes em função das injustas condições de sobrevivência que lhe são impostas pelo seu posicionamento na distribuição social vigente.
Pierre Bourdieu aponta para uma possível “inércia cultural” como motivo da continuidade da crença em uma escola libertadora, capaz de propiciar uma pretensa mobilidade social aos menos favorecidos. Ao contrário, para o autor, a escola é um dos fatores mais eficazes de conservação social, pois legitima as desigualdades sociais, sancionando a herança cultural, tratando o dom social como dom natural.
O conceito de herança cultural retrata fielmente a influência que tem na carreira escolar do aluno a bagagem acumulada não só por ele próprio diante das possibilidades e da realidade de sua criação, mas sobretudo da estrutura familiar à qual o mesmo pertence, da história dos seus antepassados e do somatório de pontos positivos e negativos armazenados segundo os valores que determinam a condição social de alguém de acordo com a visão moderna da sociedade.
Em termos práticos, fatores como: nível de escolaridade dos pais, nivel de renda familiar, bairro onde mora, boa alimentação, acesso a escolas de boa qualidade e possibilidade de participação em diferentes atividades educacionais extra curriculares, dentre outros, formam um arcabouço social que necessariamente diferencia uns e outros, impedindo que perfis sejam absolutamente idênticos, o que por si só já desvela uma suposta igualdade de oportunidades.
Diante desse quadro, a orientação educacional encontra-se restrita a avaliar os diferentes aspectos que configuram o perfil do aluno e buscar uma adequação de tal perfil à realidade da formação escolar disponível para o mesmo, procurando otimizar a relação realidade/possibilidade no intuito de fornecer uma direção para o normalmente desnorteado aluno de origem humilde, ao mesmo tempo que se pergunta (a orientação educacional) se realmente está colaborando para a formação do aluno, ou se está apenas ratificando o papel de conservação social da escola e de manutenção de uma paz social forjada no sacrifício de muitos para sustento dos benefícios de poucos.
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